M1 Numbers: como a Fiat se tornou mais brasileira do que italiana

O Brasil mantém a Fiat viva

Em 2024, pouco mais de quatro em cada dez veículos da Fiat vendidos no mundo foram emplacados no Brasil. Na prática, a presença em um único mercado de 2,5 milhões de unidades superou o total da marca em toda a Europa, cujo mercado total é seis vezes maior.

A comparação fica ainda mais impactante ao observar a Itália, berço histórico da Fiat. No ano passado, apenas 15% das vendas globais vieram do país europeu. Em outras palavras, para cada carro vendido na Itália, 2,8 foram vendidos no Brasil.

O contraste é ainda mais claro quando se considera o tamanho dos mercados: o brasileiro é apenas 1,4 vez maior que o italiano. Isso explica a diferença nas participações de mercado. Nos seis primeiros meses de 2025, a Fiat detinha 21% do mercado brasileiro, praticamente o dobro da fatia de 11% registrada na Itália.

Os dados históricos revelam mudanças radicais. Em 2019, antes da pandemia, a Fiat tinha 14% do mercado no Brasil e 16% na Itália. Em 2015, as participações eram de 18% e 22%, respectivamente.

Duas décadas atrás, em 2005, a Fiat representava 25% do mercado brasileiro e 22% do italiano. Trinta anos atrás, em 1995, a fatia era de 23% no Brasil e 33% na Itália. E o dado mais impressionante vem de 1985: naquele ano, a Fiat controlava 13% das vendas de automóveis no Brasil e 43% do mercado italiano.

Por quê?

A concorrência ajuda a explicar essa virada. Na Itália, a Fiat ficou sem rivais locais relevantes depois de absorver marcas como Lancia e Alfa Romeo. Antes mesmo da consolidação da União Europeia como bloco econômico, a fabricante desfrutava de uma posição confortável e pouco ameaçada dentro de casa.

No Brasil, a situação foi bem diferente. A Fiat desembarcou em um mercado já consolidado por Volkswagen, Chevrolet e Ford, enfrentou muito descrédito inicial com o 147 e precisou conquistar consumidores gradualmente, reduzindo rapidamente a distância para as líderes. Sua participação de mercado saltou de 10% em 1984 para um pico de 27% em 1996, estabilizando-se em torno de 21% a 22% após a pandemia.

A inovação é importante

No Brasil, a Fiat introduz continuamente novos modelos para manter sua posição em determinados segmentos ou até mesmo criar novos mercados. Esse é o caso dos sucessos comerciais da Strada e da Toro e, mais recentemente, do Fastback.

Atualmente, a Fiat oferece cinco modelos de carros de passeio na Itália (excluindo veículos comerciais), contra nove no Brasil, onde as picapes são praticamente tratadas como carros de uso diário. A inovação constante, o marketing eficaz e uma gama de produtos mais ampla explicam a imagem positiva da marca entre os brasileiros e ajudam a sustentar seu sucesso na América do Sul.

De longe, a Fiat é a fabricante que mais soube compreender o consumidor brasileiro, entregando não apenas o que ele deseja, mas também o que efetivamente consegue comprar. Da desconfiança inicial com o 147, em um mercado então dominado pela Volkswagen com o Fusca, a percepção mudou rapidamente com a chegada de modelos acessíveis como Uno e Palio.

Mesmo em segmentos mais caros, onde a marca enfrentou dificuldades na década de 1990 com o Tempra e nos anos 2000 com o Marea, conseguiu reverter o cenário ao explorar novas categorias, caso da picape Toro e do Fastback.

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